Alergias e Rinite Alérgica

Uma alergia consiste numa reação excessiva do nosso sistema imunitário em resposta à presença de uma substância externa (alergénio), geralmente inócua, mas que devido a fatores ambientais e/ou genéticos pode desencadear uma reação alérgica em determinado indivíduo(1;2;3). A prevalência desta patologia tem vindo a aumentar, principalmente em países desenvolvidos, devido à poluição ambiental e às consequentes alterações climáticas(4).

Qualquer substância pode ser um alergénio tendo em conta a idiossincrasia de um indivíduo, no entanto os alergénios mais frequentes pertencem a uma das seguintes categorias: pólenes (e outras partículas aéreas), alimentos, medicamentos e animais(1;5).

Uma alergia pode também surgir em qualquer idade, não sendo o seu aparecimento exclusivo da idade infantil(5). Existem vários fatores que podem influenciar o aparecimento de alergias, além dos já mencionados fatores ambientais e genéticos, como:

– a introdução de certos alimentos na infância, como ovos ou amendoins pode contribuir para a redução do aparecimento das respetivas alergias alimentares(6;7;8);
– a dieta durante a gravidez e lactação e suplementação com ómega-3 ou probióticos aparenta diminuir o desenvolvimento de alergias(7);
– a toma de determinados medicamentos que alterem o microbioma intestinal (como antibióticos, alguns anti-histamínicos ou inibidores das bombas de protões) antes dos 6 meses de idade, ou mesmo em idade adulta, aumenta o risco de alergias(1;8;9).

Os sinais e sintomas aparecem quando o determinante antigénico do alergénio (parte do alergénio que ativa o sistema imunitário) entra em contacto com os glóbulos brancos, mais especificamente os linfócitos B. Estes, por sua vez, iniciam a produção de anticorpos na forma de imunoglobulinas E (IgE) que vão ativar as células responsáveis por mediar a resposta inflamatória – os basófilos e os mastócitos. Estas células libertam substâncias, entre as quais a histamina, que vão ser responsáveis pelo aparecimento dos sintomas tradicionalmente associados a alergias: comichão, rubor, congestão nasal e/ou rinorreia, espirros, lacrimejo excessivo, erupções cutâneas e, mais raramente, reações anafiláticas. Contundo, se persistentes, estes sintomas podem constituir patologias como rinite alérgica, sinusite e asma(1;2;3).

A rinite é caracterizada pela recorrência de sintomas nasais e oculares, podendo ser de origem alérgica ou não-alérgica, sendo neste caso causada por fatores como alterações de temperatura e humidade(3). Em 2017, um estudo revelou que pelo menos 20% da população portuguesa sofre de rinite alérgica(10). Esta pode apresentar-se como sazonal, sendo que a maioria destes casos surge na Primavera, ou prolongar-se ao longo de todo o ano. Os sintomas associados podem perturbar as atividades diárias bem como a qualidade do sono da população afetada, tendo assim um impacto negativo na sua qualidade de vida(3;10).

Por forma a identificar o alergénio causador dos sintomas, é possível realizar testes de diagnóstico de puntura onde se avalia a reatividade, ou a sua ausência, do sistema imunitário a determinados alergénios, assim como a sua severidade(1;2). Assim, é possível tomar medidas preventivas para evitar o contacto com o alergénio, diminuindo o aparecimento e gravidade dos sintomas, como:

– evitar um certo alimento ou animal;
– limitar a circulação exterior em alturas de elevada quantidade de pólenes;
– remover carpetes, alcatifas e peluches do espaço doméstico;
– usar roupa de cama hipoalérgica e, se possível, lavá-la a 60ºC;
– limpar a casa com frequência, de preferência usando um aspirador com filtros de partículas de alta eficiência (HEPA)(1;3;4).

Nos casos em que é inexequível evitar o alergénio, os sintomas podem ser controlados, em conjunto com as medidas já mencionadas, com lavagem nasal salina ou através de medicamentos (anti-histamínicos, antagonistas de leucotrienos ou corticosteroides) devendo para tal ser efetuada uma avaliação clínica dos sintomas e do historial do doente por forma a selecionar a melhor linha de ação(1;3;10;11). Em casos em que haja risco de ocorrer uma reação anafilática, é importante que o doente tenha sempre consigo uma injeção de adrenalina e que a mesma seja administrada o mais cedo possível(1). Por outro lado, pode-se também recorrer à imunoterapia de maneira a dessensibilizar o sistema imunitário ao alergénio e, dessa forma, evitar a sua resposta excessiva quando entra em contacto com o alergénio numa situação do dia-a-dia(1;3).

Não existindo uma cura para esta condição, a melhor opção é empenhar-se na sua prevenção. Na hipótese de surgimento de sintomas, deve ser realizada uma avaliação holística da situação, despistando a hipótese de uma reação não-alérgica, e escolhendo um tratamento que melhor se enquadre com o estado clínico e que deve englobar também as medidas não-farmacológicas.

Bibliografia
1 – https://www.mdsaude.com/otorrinolaringologia/rinite-alergica/ (consultado a 14 de abril de 2020)
2 – https://www.worldallergy.org/education-and-programs/education/allergic-disease-resource-center/professionals/ige-in-clinical-allergy-and-allergy-diagnosis (consultado a 15 de abril de 2020)
3 – https://www.worldallergy.org/education-and-programs/education/allergic-disease-resource-center/professionals/in-depth-review-of-allergic-rhinitis (consultado a 15 de abril de 2020)
4 – Eguiluz-Garcia I., et al. The need for clean air: The way air pollution and climate change affect allergic rhinitis and asthma. Allergy 2020 Jan 9
5 – https://www.webmd.com/allergies/features/adult-onset-allergies#1 (consultado a 16 de abril de 2020)
6 – Burgess JA., et al. Age at introduction to complementary solid food and food allergy and sensitization: A systematic review and meta-analysis. Clin Exp Allergy 2019 Jun; 49(6): 754-769
7 – Garcia-Larsen V., et al. Diet during pregnancy and infancy and risk of allergic or autoimmune disease: A systematic review and meta-analysis. PLoS Med 2018 Fev 28; 15(2)
8 – Comberiati P., et al. Prevention of food allergy: the significance of early introduction. Medicina (Kaunas) 2019 Jun 30; 55(7)
9 – Mitre E., et al. Association between use of acid-suppressive medications and antibiotics during infancy and allergic diseases in early childhood. JAMA Pediatr 2018 Jun 4; 172(6)
10 – https://www.spaic.pt/grupos-trabalho/rinite (consultado a 14 de abril de 2020)
11 – https://www.worldallergy.org/education-and-programs/education/allergic-disease-resource-center/professionals/a-synopsis-on-pharmacotherapy-for-allergic-diseases (consultado a 17 de abril de 2020)